sexta-feira, 25 de julho de 2014

Romalino Rodrigues

Romalino Rodrigues
(O destino do ouro era outro)
Ramão Rodrigues Aguilar
                 
Romalino Rodrigues, homem de porte físico mediano, cabelos grisalhos e cumpridos, bigode e barba rala, bombacha erguida acima da cintura e um cinturão de couro com uma fivela de bronze redonda, cheia de buraco em volta, chapéu de feltro desabado, botas de canos curtos, vestuário surrado, carregava seus pertences em uma bolsa de pano de algodão, era uma estampa simples de pessoa do campo.
Criado em galpão de estância, no pampa do Rio Grande do Sul, também chamada de Região da Campanha, desde criança aprendeu a conviver com o rigor extremado do clima, no verão um calor que chega a marca de quarenta graus na sombra e no inverno com baixas temperaturas e formação de geadas.
Devotado às lides campeiras de criação de gado, sua única escola foi a da vida, ofício de peão de estância, tropeiro e capataz foi o seu trabalho e o que lhe deu o sustento para si e sua família, fiel ao seu patrão, trabalhou mais de quarenta anos vinculado apenas a um estancieiro de São Borja.
Lá pelos idos de 1983, eu passei alugar uma casa da Senhorita Adília Dornelles Motta, diga-se de passagem, nessa época ela já tinha mais de noventas anos de idade, era seu procurador o saudoso Doutor Pedro Mello, antes nós morávamos em apartamento, mas procuramos uma casa em função das crianças. Minha sogra, que já conhecia o seu Romalino e sabendo da nossa dificuldade, nós com duas crianças, uma dando os primeiro passos e a outra ainda de colo, trouxemos para morar conosco e ajudar a cuidar das crianças uma filha dele, a Rozelaine, sendo que a partir desta data, até quanto ele existiu, toda a vez que ele vinha para cidade, ele parava lá em casa.
Homem beirando os oitenta anos, de olhar complacente, não sorria, sempre sério, de pouca conversa se limitava em dar notícia do resto da família e falar do tempo, das chuvas ou da falta delas para as lavouras e a criação de gado, mas quando perguntado como era no passado a sua vida de peão e capataz de estância, ele falava, com orgulho, da confiança que o patrão depositava nele e a satisfação do dever cumprido, falava das lidas duras de campo, dos tempos que parava rodeio, das gineteadas, das tropeadas de gados de uma estância para outra e de lá para os frigoríficos, quando ainda não existiam os caminhões boiadeiros e a tropa era conduzida por terra. Muitas coisas aprendi com ele, um homem sábio.
Mas de todas as histórias que ouvi, entre elas destaco esta que poderia ter mudado sua vida, mas o destino do ouro era outro. Certa feita ele me contou dum ocorrido com ele que me deixou impressionado. Ele passava a cavalo próximo a uma sanga (riacho) e como o dia estava muito quente ele apeou e resolveu se refrescar um pouco na água. Enquanto se molhava viu que a água corrente ao passar por um objeto ficava crespa, chegando mais perto constatou que se tratava de uma peça de cerâmica, no formato de uma jarra, como se fosse um cântaro d’água.  Retirou aquela peça e com o auxilia da faca foi quando conseguiu destampá-la, derramou o conteúdo na grama e para sua surpresa viu reluzir os patacões de prata, onças e libras de ouro, colocou tudo de volta, tampou e seguiu com o achado em direção à sede da fazenda.
Na ida ia pensando o que fazer com aquele tesouro... Se contasse para a peonada certamente ia correr risco de vida e se levasse para o patrão ele iria ficar alegando que foi encontrado nas suas terras. Daí teve uma ideia de esconder o tesouro próximo ao galpão, onde ele podia cuidar e ter mais um tempo para pensar. Cavou com a faca em volta de uma macega (barba de bode), removendo a mesma acomodou ali seu tesouro e recolocou a macega no lugar.
De quando em vez, depois que a peonada se acomodava no galpão ele disfarçava e descia para o lado do lagoão onde tinha guardado a jarra com as moedas, com a finalidade de conferir se ela continuava lá. Numa dessas rondas sem perceber foi seguido por um peão, que desconfiou da sua atitude esperou ele retornar e se apossou do cabedal, anoiteceu e não amanheceu na estância e dele nunca mais se teve notícias, levando consigo o tesouro encontrado pelo seu Romalino Rodrigues, que poderia ter mudado sua vida, mas infelizmente tomou outro destino.


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