Romalino Rodrigues
(O destino do ouro era outro)
Ramão Rodrigues Aguilar
Romalino Rodrigues, homem de porte
físico mediano, cabelos grisalhos e cumpridos, bigode e barba rala, bombacha
erguida acima da cintura e um cinturão de couro com uma fivela de bronze
redonda, cheia de buraco em volta, chapéu de feltro desabado, botas de canos
curtos, vestuário surrado, carregava seus pertences em uma bolsa de pano de
algodão, era uma estampa simples de pessoa do campo.
Criado em galpão de estância, no
pampa do Rio Grande do Sul, também chamada de Região da Campanha, desde criança
aprendeu a conviver com o rigor extremado do clima, no verão um calor que chega
a marca de quarenta graus na sombra e no inverno com baixas temperaturas e
formação de geadas.
Devotado às lides campeiras de
criação de gado, sua única escola foi a da vida, ofício de peão de estância,
tropeiro e capataz foi o seu trabalho e o que lhe deu o sustento para si e sua
família, fiel ao seu patrão, trabalhou mais de quarenta anos vinculado apenas a
um estancieiro de São Borja.
Lá pelos idos de 1983, eu passei
alugar uma casa da Senhorita Adília Dornelles Motta, diga-se de passagem, nessa
época ela já tinha mais de noventas anos de idade, era seu procurador o saudoso
Doutor Pedro Mello, antes nós morávamos em apartamento, mas procuramos uma casa
em função das crianças. Minha sogra, que já conhecia o seu Romalino e sabendo
da nossa dificuldade, nós com duas crianças, uma dando os primeiro passos e a
outra ainda de colo, trouxemos para morar conosco e ajudar a cuidar das
crianças uma filha dele, a Rozelaine, sendo que a partir desta data, até quanto
ele existiu, toda a vez que ele vinha para cidade, ele parava lá em casa.
Homem beirando os oitenta anos, de
olhar complacente, não sorria, sempre sério, de pouca conversa se limitava em
dar notícia do resto da família e falar do tempo, das chuvas ou da falta delas
para as lavouras e a criação de gado, mas quando perguntado como era no passado
a sua vida de peão e capataz de estância, ele falava, com orgulho, da confiança
que o patrão depositava nele e a satisfação do dever cumprido, falava das lidas
duras de campo, dos tempos que parava rodeio, das gineteadas, das tropeadas de
gados de uma estância para outra e de lá para os frigoríficos, quando ainda não
existiam os caminhões boiadeiros e a tropa era conduzida por terra. Muitas
coisas aprendi com ele, um homem sábio.
Mas de todas as histórias que ouvi,
entre elas destaco esta que poderia ter mudado sua vida, mas o destino do ouro
era outro. Certa feita ele me contou dum ocorrido com ele que me deixou
impressionado. Ele passava a cavalo próximo a uma sanga (riacho) e como o dia estava muito quente ele apeou e resolveu
se refrescar um pouco na água. Enquanto se molhava viu que a água corrente ao
passar por um objeto ficava crespa, chegando mais perto constatou que se tratava
de uma peça de cerâmica, no formato de uma jarra, como se fosse um cântaro
d’água. Retirou aquela peça e com o
auxilia da faca foi quando conseguiu destampá-la, derramou o conteúdo na grama
e para sua surpresa viu reluzir os patacões de prata, onças e libras de ouro,
colocou tudo de volta, tampou e seguiu com o achado em direção à sede da
fazenda.
Na ida ia pensando o que fazer com
aquele tesouro... Se contasse para a peonada certamente ia correr risco de vida
e se levasse para o patrão ele iria ficar alegando que foi encontrado nas suas
terras. Daí teve uma ideia de esconder o tesouro próximo ao galpão, onde ele
podia cuidar e ter mais um tempo para pensar. Cavou com a faca em volta de uma
macega (barba de bode), removendo a mesma acomodou ali seu tesouro e recolocou
a macega no lugar.
De quando em vez, depois que a
peonada se acomodava no galpão ele disfarçava e descia para o lado do lagoão
onde tinha guardado a jarra com as moedas, com a finalidade de conferir se ela
continuava lá. Numa dessas rondas sem perceber foi seguido por um peão, que
desconfiou da sua atitude esperou ele retornar e se apossou do cabedal,
anoiteceu e não amanheceu na estância e dele nunca mais se teve notícias,
levando consigo o tesouro encontrado pelo seu Romalino Rodrigues, que poderia
ter mudado sua vida, mas infelizmente tomou outro destino.
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