segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Borges do Canto

JOSÉ BORGES DO CANTO Por Ramão C. Rodrigues Aguilar e Ronaldo Bernardino Colvero (*) Considerado pela historiografia como o conquistador das missões, teve um papel de destaque no período de 1801, quando da conquista do território das missões, aqui nos reportamos em especial aos seus feitos por São Borja, espaço este criado a partir de 1682 onde se iniciou o processo de criação do que seria mais tarde lá pelo ano de 1690 o povo de São Borja, organizado após a primeira fase das Missões Orientais, que haviam sido derrocadas pela invasão dos bandeirantes, que as destruíram totalmente. São Borja, povoada por índios reduzidos, sob a jurisdição social dos jesuítas e tutela política da Espanha, passou a domínio português no ano de 1801, através da conquista do Território das Missões por Borges do Canto, Gabriel de Almeida e Manoel dos Santos Pedroso. Foi pela distribuição das sesmarias aos soldados e colonos portugueses, que se iniciou efetivamente o povoado sob o cetro da coroa portuguesa. Biografia: Borges do Canto nasceu em 17 de fevereiro de 1775, em Rio Pardo. Seu pai era Francisco Borges do Canto, descendente da Ilha de São Miguel, nos Açores. Sua mãe chamava-se Eugênia Francisca de Souza, era natural da Colônia do Sacramento e faleceu em 1801. Seus tios, assim como seu pai, eram laguanenses de nascimento, que constituíram uma grande família e vieram para Rio Pardo. Em 1791, com 16 anos, José Borges do Canto foi incorporado como soldado à 8ª Companhia do Regimento de Dragões em Rio Pardo. Em 1793, com 18 anos, desertou do Regimento de Dragões, deslocando-se para a Campanha do Rio Grande de São Pedro. No que se refere à família de José Borges do Canto, é possível verificar que este possuía dez irmãos de pai e mãe e, somente uma irmã de outro casamento de seu pai. São eles: Rosaura Francisca, Bernardo José do Canto, Francisca Margarida, Joaquina Francisca, Esméria, Francisco Borges do Canto, João Borges do Canto, Manuel Borges do Canto, Ana e Maria Francisca, todos os filhos do primeiro matrimônio. Um ano após a morte de D. Eugênia Francisca, Francisco Borges do Canto consumou o segundo matrimônio com Feliciana Rosa de Jesus, tendo uma filha, chamada Alexandrina. Quando desertou do Regimento de Dragões, Borges do Canto permaneceu na Campanha do Rio Grande de São Pedro por vários anos, juntamente com índios gentios Charruas, Minuanos, Yarós, refugiados e criminosos de diferentes regiões, praticando o contrabando do gado oriundo da campanha espanhola e também fazendo saques contra comunidades existentes na campanha, proporcionando, assim as chamadas “pilhagens”. No que se refere aos interesses defendidos por Borges do Canto, percebe-se que existiu uma dualidade, ou seja, ao mesmo tempo em que Borges do Canto conquistava novas terras para a coroa portuguesa, também defendia seus interesses particulares, referentes ao número de capital, possibilitando a ele e aos seus familiares uma ascensão social perante a sociedade do século XIX. Foi através de uma numerosa família, que os Borges do Canto uniram-se, ou seja, com o casamento arranjado com outras famílias, se tornaram um dos mais importantes núcleos familiares sul-rio-grandenses. Desses casamentos surgiram numerosas famílias, como: os Cunha e Souza, os Meirelles, o Padre João de Santa Bárbara, os Silveira Peixoto, os Domingos, os Baltazar de Bem, os Borges de Medeiros, os Câmara Canto e outros. A parceria entre José Borges do Canto, Manoel dos Santos Pedroso e Gabriel Ribeiro de Almeida, que constituíam o chamado pelotão de gaudérios sulinos, que marcaram a história da Província do Rio Grande de São Pedro em meados do século XIX. Justificativa: Vários estudiosos que se dedicaram a historiografia da ocupação do território das Missões, antes e depois da conquista, são unânimes em afirmar que Borges do Canto, além de desertor era contrabandista, contudo estes mesmos historiadores reconhecem a legitimidade da conquista do território das Missões por José Borges do Canto e a sua vida particular torna-se irrelevante diante do fato histórico. Assim anuncia o jornalista, historiador e escritor Roberto Rossi Jung, em sua obra A Odisseia de José Borges do Canto – O Conquistador das Missões, na primeira orelha do referido livro. José Borges do Canto e sua comparsa de 40 intrépidos salteadores, semil ao épico de Scherazade – Ali Babá e os 40 ladrões – numa patriotada bem sucedida empurraram as fronteiras luso-brasileiras até as margens do rio Uruguai, aumentando em quase um terço o território da então Capitania do Rio Grande de São Pedro, dando a configuração atual do nosso Estado. Sua vida pessoal, sua atividade como contrabandista, donde pese as narrativas passam a depor em seu favor, considerando a façanha, que levou Borges do Canto, a alcunha de “Conquistador das Missões”, e, para tanto, somos justos em reconhecer seus atributos guerreiros, estrategista implacável e profundo conhecedor da Região, onde foi o teatro de suas operações de conquista. Existem vários aspectos a ser considerado na conquista das Missões, o que influenciaram no empreendimento bem sucedido de Borges do Canto: - O momento histórico de Guerra na Europa entre Portugal e Espanha, chamada de guerra das laranjas; - Os ventos de liberdades que sopravam na América Platina, a forte influencia do caudilho Artigas; - O espírito de brasilidade que motivou o conquistador para empreender tão arrojado projeto; - A participação de seus companheiros inseparáveis os índios Xiru e Itaqui e a liderança para formação de um exército onde a grande maioria era indígena; - Caciques José Boroné, stevão Atamani, Miguel Antonio, Vicente Tiraporé, José Guarupui, entre outros... - Reconhecer a participação decisiva do índio na conquista; - A audácia de Borges do Canto, quando enfrentou o Comandante das forças imperiais, sediados em Rio Pardo, quando poderia ter sido simplesmente preso por ser um desertor; - A coragem para enfrentar o Exército espanhol com suas comandâncias instaladas no território missioneiro; - E, após conquista as transformações sociais, econômicas, geopolítica, a ocupação da terra, vinda de um governo laico espanhol para um governo laico luso-brasileiro; - A colonização do Estado pela privatização da terra com a distribuição de sesmaria, num sistema capitalista. CONCLUSÃO O desprendimento de Borges do Canto em não aceitar salário, nem antes nem depois de ter recebido a patente de Capitão do Exército Imperial, nem sesmarias de Terras, tudo julgou desnecessário, menos a liberdade. Da liberdade não abriu mão, pois não existia fronteira para seu galopar, tanto nas margens orientais como nas margens ocidentais do grande rio Uruguai, ora nas Missões, ora no Uruguai e ora na Argentina. Preferiu voltar fazer o que fazia antes, ele e seus dois inseparáveis amigos, Xirú e Itaqui, mas numa situação bem diferente, pois antes todos o tratavam como tal e depois da conquista, todos os Castelhanos eram seus inimigos, ele contra todos. Vindo a morrer pela causa que abraçou e a sua vitória lhe custou a sua própria vida. Foi vítima de uma covarde emboscada, arquitetada por um espanhol, por ele ferido em combate, num momento de descuido foi morto a tiros de mosquetão, cobrindo a terra com um manto vermelho de sangue, como a selar seu juramento de amor à liberdade e morrer pela sua Pátria. Dois atributos, entre tantos, a liberdade e o patriotismo. Esta seria uma pequena justificativa para a pretensão que temos de recuperar a memória de José Borges do Canto, propondo que seja erigido um Monumento, compreendendo a figura principal do herói e de seus dois índios inseparáveis. Esta justificativa feita para tentar reconhecer e projetar um pouco dos méritos de José Borges do Canto, o Conquistador das Missões, no sentido de começar saldar a dívida de gratidão, da qual somos todos devedores, eternizando, também, no bronze sua memória e de seus inseparáveis companheiros Xiru e Itaqui. A eles devemos o fato de ser cidadão de uma São Borja Brasileira, pois sua invasão as missões praticamente legitima os portugueses como verdadeiros donos desta terra, claro que o tratado de Madri já o tinha feito, mas a consolidação deu-se com este personagem histórico. Somos de parecer favorável a qualquer empreendimento que recupere a memória deste vulto histórico ou de outro personagem que possa ter influenciado na identidade de São Borja, terra das Missões e dos Presidentes. São Borja, 21 de outubro de 2010. (*) Membros, do Conselho de Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural de São Borja. Fonte: - Jornalista, historiador e escritor Roberto Rossi Jung, em sua obra A Odisséia de José Borges do Canto – O Conquistador das Missões; -Historiador Amaral Flores em sua obra a História de São Borja. - Monográfia de Graduação de Astrogildo Chaves Pires (Urcamp, 2007) - Negócios na Madrugada, Ronaldo B. Colvero. (UPF, 2004).

domingo, 3 de agosto de 2014

Aimé Bonpland

AIMÉ JACQUES ALEXANDRE GOUJAUD BONPLAND Por Ramão C. Rodrigues Aguilar e Ronaldo Bernardino Colvero (*) Considerado pela historiografia e por grande parte da comunidade cientifica como um dos maiores exploradores das Américas do Sul e Central tiveram destacado papel no continente americano no período de 1799, quando aqui aportou em sua primeira viagem de exploração, até 1858, ano em que veio a falecer em sua propriedade na Província de "Corrientes". Jacques Bonpland, grande botânico, médico, explorador, filantropo, educador político, comerciante e industrial francês, celebrizou-se pelas viagens de exploração que fez ao continente americano, e pela surpreendente decisão de renunciar aos sofisticados meios científicos e sociais de que dispunha na Europa, para radicar-se no turbulento continente sul-americano do século XIX. Na America, escolheu como local para residir a Província de "Corrientes" na Argentina, mas, no entanto, por um longo período após ter sido libertado do aprisionamento que sofreu por ordem do ditador paraguaio Rodriguez de Francia, Bonpland fixou residência em São Borja, onde tendo uma vida simples e humilde dá continuidade as suas pesquisas e envolve-se na situação política conturbada em que vivia o território. Biografia: Aimé Bonpland nasceu em vinte e dois de agosto de 1773 na cidade portuária de La Rochelle na França. Seu verdadeiro nome era Aimé-Jacques Alexandre Goujaud, era filho de Marguerite-Olive de La Coste e de seu marido Simon-Jacques Goujaud, descendente de uma conhecida família de médicos e farmacêuticos, mestre em cirurgia e cirurgião-chefe do hospital de La Rochelle. Recebeu de seu pai a alcunha Bonpland, que adoptaria como nome, e pela qual ficaria conhecido. Destinado a seguir a carreira paterna, Bonpland fez os seus estudos preparatórios em La Rochelle, demonstrando desde muito jovem interesse pelas Ciências Naturais, paixão que partilhava com seu pai. Em 1791, ainda com apenas 17 anos de idade, parte para a capital francesa onde cursa estudos de anatomia e nesta mesma época, inicia o estudo da botânica e relaciona-se com os famosos naturalistas Jean-Baptiste Lamarck, Antoine Laurente de Jussieu e René Louiche Desfontaines. É então que nasce a sua dedicação à ciência, especialmente à botânica. Entretanto aprofunda-se a grande convulsão social desencadeada pela Revolução Francesa, o país entra em convulsão e Bonpland é obrigado em 1793 a alistar-se nas forças armadas. Embarca como ajudante de cirurgião numa Fragata que participa na luta contra as forças britânicas no Atlântico. Permanece cerca de dois anos em serviço militar. Neste período Frequentou a Escola Naval de Medicina em Rochefort e obteve o grau de cirurgião. Nos anos seguintes regressa a Paris, onde conclui os seus estudos com a obtenção do grau de doutor em medicina. Entretanto, continua os seus estudos de ciências naturais, convivendo com os melhores cientistas da época. É neste meio acadêmico que em 1798 Conhece Alexander Von Humboldt, com quem passa a pleitear junto ao governo Frances o apoio para uma viagem de exploraçao à África e ao sueste asiático. A viagem a África não foi realizada por falta de apoio governamental, mas Bompland e Humblodt tornam-se grandes amigos e passam a idealizar uma expedição ao continente americano, com o nítido objetivo de explorar a América Central e do Sul. Ainda em 1798 conceguem com o rei espanhol Carlos IV a autorização para a viagem de exploração pelas terras da Espanha na América. Obtida a autorização, aos 25 anos, Bonpland parte da Europa com destino ao continente americano em 1799 a bordo da corveta de guerra Pizarro. A viagem durou cinco anos e levou-os à Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Brasil na America do Sul e ainda, ao México e ao Estados Unidos, apenas terminando em agosto de 1804 com seu retorno a Bordéus. A viagem de exploração de Bonpland foi repleta de imprevistos, mas ele percorreu pra mais de dez mil quilômetros pelo interior da América, se dedicando primordialmente ao recolhimento, catalogação e identificação das propriedades de diversas especies e gêneros de plantas. Na exporação, procurou também, capturar e preservação de incetos, os quais remeteu posteriormente para Europa para a análise e estudo. Para facilitar a compreensão da viagem, esta pode ser dividida nos seguintes trajetos e períodos: • Venezuela e Brasil: Junho de 1799 a Dezembro de 1800; • Cuba: Dezembro de 1800 a Março de 1801; • Colômbia, Peru e Equador: Março de 1801 a Março de 1803; • México: Março de 1803 a Abril de 1804; • Cuba e Estados Unidos da America: Abril de 1804 a Agosto de 1804. Em seu percurso iniciado na Venezuela fez varias descobertas com inéditas com relação a fauna e a flora. Aproveitando que ao penetrar o inóspito território deparava-se com diversas tribos nativas, que por sinal na maioria das vezes eram hostis a presença de europeus Bomplande estendeu o seu interesse à antropologia, estudando as características dos povos que encontrava e os traços mais salientes das suas culturas. O contacto dos exploradores com as populações andinas permitiu trazer até aos meios cultos da Europa notícias concretas sobre a riqueza etnográfica e cultural daqueles povos, permitindo melhor compreender a riqueza do seu passado e os enormes valores arqueológicos existentes naquela região do mundo, e demonstrando que as civilizações ameríndias da América do Sul em nada tinham sido inferiores às suas contemporâneas da bacia mediterrânica. Em agosto de 1804 Alexander Von Humboldt e Aimé Bonpland retornam para a Europa, mais especificamente Bordéus na França, trazendo toneladas de amostras de animais e plantas colhidas ao longo de 5 anos de viagem pelas Américas. Encerrava-se assim uma das expedições científicas mais importantes do século XIX. A expedição de Humboldt e Bonpland teve um significado especial para o Brasil e para a Venezuela, devido ao mapeamento da ligação dos rios Orinoco e Negro e à descrição de milhares de espécies animais e vegetais comuns àquelas duas bacias hidrográficas, até ali desconhecidas pela ciência ocidental. Após o seu regresso da expedição à América, Bonpland fixa residência em Paris para preparar, em colaboração com o seu infatigável amigo Alexander Von Humboldt, a publicação dos resultados científicos do seu périplo pelo Novo Mundo. Também se dedicam a ordenar os seus herbários, que depositam no Museu do Jardim de Plantas de Paris. Neste período Bompland conhece apaixona-se por Adelia Bouchy, que era casada com com um senhor Boyer . Daí resultou um escândalo, cujo desfecho foi o divórcio de Adelia. Sem aprovação familiar, contrai matrimônio com ela. Foi então que Bonpland decidiu retornar à América, aceitando o oferecimento de Simón Bolívar para se radicar na Venezuela. Contudo, em Outubro de 1816, parte para Buenos Aires, acabando por optar pela aceitação de um convite de Bernardino Rivadavia, que em 1814 conhecera em Londres, e que lhe prometera apoio para a criação de um Jardim Botânico e para a refundação do Museu de Ciências Naturais de Buenos Aires. Quando retornou a América, Bompland trouxe a esposa, a filha dela e dois ajudantes. Levava também consigo livros, grande quantidade de sementes e duas mil plantas, repartidas entre plantas medicinais, frutícolas, hortaliças e ornamentais. Nesta fase em que viveu em Buenos Aires reparte o seu tempo entre o exercício da medicina e o colectar de espécies vegetais raras, contribuindo também para os periódicos locais com preciosas questões ligadas às ciências naturais. Por esta altura encontra na Isla Martín Garcia, restos de cultivo da erva-mate, ali há muito introduzida pelos jesuítas, matéria pela qual se interessa e que influirá decisivamente na sua carreira futura. Devido a problemas pessoais enfrentados por sua esposa e também por que as circunstâncias políticas momentaneamente não permitiam a instalação do Jardim Botânico e do Museu de História Natural Bonpland decidiu deixar Buenos Aires e fazer uma viagem ao Paraguai e a Província de Missiones. Em 1820 dirige-se para Província de Corrientes com o objetivo de estudar a erva-mate em seu habitat natural, e após explorar esta Província em fim vai para Missiones estabelecendo-se no povoado de Santa Ana de los Guácaras. Nessa localidade organiza em Junho de 1821, uma estância agrária destinada à exploração da erva-mate e inicia a exploração sistemática das zonas onde aquela planta fora cultivada pelos jesuítas e pelos povos indígenas. Ajudado pelos seus conhecimentos em botânica e jardinagem, o pacifico naturalista obteve sucesso em seu novo empreendimento, mas ignorava que a produção e o comércio da erva-mate era monopolio do Paraguai que era controlado pelo ditador José Gaspar Rodriguez de Francia. Este país mantinha conflito com a província argentina de Corrientes pela possessão das Missiones, na margem esquerda do Rio Paraná. Resultou desta situação que em dezembro de 1821, cerca de 400 soldados paraguaios invadem a estância de Santa Ana e destroem-na, matando alguns indígenas e levando Bonplande ferido para a aldeia de Santa Maria de Fé na margem direita do Rio Paraná, aonde permaneceu por nove anos aprisionados sobre ordem direta do ditador Francia, mas com liberdade de movimento e sem correntes. Apesar de sequestrado, isto é, de estar sem o direito de retirar-se do território paraguaio, Bonpland podia continuar trabalhando com botânica e também realizando serviços médicos e humanitários. Por ser bastante reconhecido por suas expedições e descobertas científicas, ao saberem de seu aprisionamento vários de seus amigos e admiradores intentaram sua liberdade, mas nao obtiveram resposta de Francia. Libertado em 1829, Bompland resolve permanecer no território paraguaio até 1831, quando dali retira-se e vai para o povoado de São Borja Na margem direira do Rio Uruguai e antiga missão jesuítica, ali se fixando sem luxo algum. A partir de São Borja passou a recorrer toda a região e voltou a recolher espécies animais e vegetais as quais remetia a a Buenos Aires com o objetivo de enrriquecer o Museu de História Natural local e de fazer chegar algumas a Europa. Em 1838, vai a Buenos Aires e consegue do goveno argentino a cedência de alguns terrenos na Província de Corrientes, proximos ao passo de Santa Ana, aonde reinicia o cultivo da erva-mate e a criação de gado, tornando-se um próspero produtor rural. Devido ao seu profundo espirito liberal e suas arraigadas convicçoes democráticas adquiridas no tempo da Revolução Francesa, Bompland envolvesse na turbulenta política local, engajando-se fortemente na defesa dos interesses da Província de Corrientes. Após uma série acontecimentos políticos desfavoráveis a sua causa, em 1842 Bompland refugia-se novamente em sua propiedade em São Borja, hospedando ali alguns amigos seu que eram exilados politicos de Corrientes. Nos anos seguintes reinicia suas atividades agrícolas e comerciais que haviam sido interrompidas pela guerra, viajando pelo interior do Brasil onde fez negócios com a indústria da erva-mate e de criaçao de gado, principais atividades de sua fazenda. Logo em seguida retorna definitivamente a sua estância em Santa Ana mas permanece a fazer constantes viagens a São Borja. No ano de 1858, aos 85 morreu em sua propriedade em Santa Ana, localidade que hoje em sua homenagem e denominada Bonpland. E seus restos mortais foram sepultados no cemitério de Passo de los Libres aonde até hoje permanece em uma humilde urna. Justificativa: Baseado em várias produções a maioria delas de origem Europeia e levando e consideração toda a coletânea de descobertas feita por Aimé-Jacques Alexandre Bonpland e absolutamente indiscutível que a viagem do citado explorador a América é a maior expedição científica ocorrida no século XIX. Nas terras americanas de difícil acesso, o dedicado cientista Frances desenvolveu pesquisas, inicialmente na companhia de seu amigo Alexander Von Humboldt em diversas áreas, sendo algumas delas: Botânica, zoologia, geologia, antropologia, fitogeografia, climatologia e a relação entre fauna, flora e o clima entre outras. Na maioria das vezes, o nome de Bonpland não figura, na América, no rol dos grandes personagens que significativamente contribuiram para o desenvolvimento da ciência e para a liberdade e soberania deste território, e isso, com certeza dá-se devido ao fato de ele nunca ter ocupado cargos políticos de grande visibilidade, e até mesmo, por em momento algum ter almejado posição de liderança perante seus pares. No entanto, a sua história é extrema mente rica de feitos e eventos que inequivocamente marcam o seu engajamento na busca pelo desvendar do conhecimento científico e na luta, ainda que silenciosa, na defesa dos direitos humanos, liberdade e democracia, entre os quais podemos sucintamente citar: • Participação ativa, prestando serviços humanitários e atendimentos médicos, na Revoluçao Francesa quando ainda em formação profissional. • Busca constante pelos conhecimentos que favorecessem o desenvolvimento e aprimoramente das ciências naturais. • Expedições de exloração científica pelo interior da França, pela Espanha e a mais importante delas, por quase todo o território do continente americano. • Recolhimento catalogação e descrição das propriedades de milhares de espécimes de plantas e incetos, sendo que a grande maioria deles desconhecidas pela botânica européia até o momento. • Observações e análises sobre a geografia, geologia, clima e topografia do até então quase desconhecido continente americano. • Contato antropológico com tribos nativas e importantes afirmações sobre os significativos traços culturais das mais importantes sociedades pré-colombianas demonstrando que elas em nada eram deficientes quando comparadas com as da bacia Mediterrânea. • Defensor da liberdade foi contrario, juntamente com Humboldt, ao escravagismo e tráfico negreiro verificado especialmente em Cuba na América Central. • Desprendimento em prol da ciência de mesmo após ter sua competência reconhecida, optar por deixar o conforto e modernidade que a Europa lhe oferecia e vir radicar-se no ainda inóspito continente americano. • Mesmo no período em que esteve sequestrado pelo governo ditatorial de Francia, teve sua condição profissional reconhecida, mantendo o direito de pesquisar e realizar trabalhos médicos. • Engajamento na luta de libertação que se desenvolveu no continente sul americano no inicio do século XIX, principalmente em favor da Província de Corrientes, território argentino em que tinha propriedade. Inclusive transformando sua humilde residência em São Borja em local de asilo político para alguns dos principais perseguidos pelas forças regime CONCLUSÃO O desprendimento de Aimé Bonpland, de ter decidido vir explorar o continente americano em um período que na América não lhe foi oferecido nenhum apoio logístico à pesquisa, com certeza urge em ser reconhecido. Até porque, mesmo depois de já ter seu nome e desempenho profissional amplamente reconhecido nos melhores centros de pesquisa europeu, Bonpland decide abandonar Paris com sua Familha e vir residir na América do Sul. Motivado não por interesses financeiros ou de engrandecimento pessoal, o nobre pesquisador continuou por todo o período em que permaneceu na América a dedicar-se ao desenvolvimento da ciência sem, contudo afastar-se das principais lutas políticas e sociais que enfrentava sociedades em que ele estava envolto. Desta forma, julgamos que temos aqui uma justificativa para a pretensão que temos de recuperar a memória de Aimé Jacques Alexandre Goujaud Bonpland, propondo que seja erigido um Monumento, compreendendo a figura principal pesquisador e cientista que esteve na América no século XIX, e que por um longo período residiu no município de São Borja. Esta justificativa feita para tentar reconhecer e projetar um pouco dos méritos de Bonpland, grande botânico, médico, explorador, filantropo, educador, político, comerciante e industrial, do qual somos todos ainda que não reconhecidamente devedores, eternizando, também, no bronze sua memória. Assim, somos de parecer favorável a qualquer empreendimento que recupere a memória deste vulto histórico ou de outro personagem que possa ter influenciado na identidade de São Borja, terra das Missões e dos Presidentes. São Borja, 12 de novembro de 2010. (*) Membros, do Conselho de Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural de São Borja.