A Expansão da Música Regional Gaúcha
Por Israel Lopes e Ramão Aguilar
Ao
estimado Patrão Cláudio Caetano Vieira, do CTG “Tropilha Crioula”, os demais
membros da patronagem aqui presentes, Departamento Prendas e Peões, Invernadas
de Danças.
Senhoras
e Senhores:
Sempre
que somos chamados para falar de nossas raízes culturais, e, nesta oportunidade
abordando nossa identidade gaúcha, no que se refere a sua Música Regional,
nosso cancioneiro é um motivo de grande estímulo para seguirmos na busca constante
de nossos valores de raízes para trazê-lo ao presente e projetá-lo as gerações
vindouras.
Esse
apego a terra, nosso atavismo, a busca constante das nossas raízes é um
apanágio de todos nós. E, quando passamos a descobrir essa cultura deixada
pelos nossos antepassados fizemos um processo de reconstrução e nos sentimos no
compromisso de recuperá-la, fazendo com que ela continue no seu processo
evolutivo sem perder a sua essência, daí a importância da pesquisa e do
conhecimento.
Antes
do Rádio existia a “casa a Eléctrica”, na capital de todos os gaúcos, Porto
Alegre, de 1913 a 1919, segundo Hardy Vedana e Paixão Cortez. Os ritmos eram
variados, sendo as mais gravadas, Valsas, Polcas, Mazurca e Chote, mas também
gravaram Rancheiras, Marchas, Havaneira e tangos. Rodadas na era do Gramofone.
A canção “Boi Barroso” recolhida do folclore gaúcho, foi gravada pelo gaiteiro
Moisés Mandadori, em 1914. O dono da Casa A Eléctrica”, se chamava Savério
Leoneti, emigrante italiano. Os temas gravados pela Casa A Eléctra, eram bem
variados, alguns falavam no Rio Grande do Sul, outros na cultura Caipira de São
Paulo e, também, sobre temas urbanos, gravados em 78 Rotações.
A
Música Regional do Rio Grande do Sul, na era do Radio, teve seu início na Rádio
Gaúcha de Porto Alegre, com a programação de Piraja Weyer, em 1936; Pedro
Raymundo, em 1939 e Lauro Rodrigues, em 1940. Nesses programas eles procuravam
apresentar os ritmos regionais, como o Chote, Rancheira, Toadas, Valsas e Polca
principalmente, e nas letras eles procuravam relatar os usos e costumes
gaúchos. Pedro Raymundo e seu conjunto “Quarteto dos Tauras” e, também, a
“Dupla Campeira” (Osvaldinho e Zé Bernardes). Estes, na época, eram os
principais artistas que interpretavam o Cancioneiro Gaúcho. Pedro Raymundo
tocava a Gaita de Botão e a gaita Cromática, enquanto que Osvaldinho tocava a
gaita Pianada.
O
cantor Pedro Raymundo, em 1943, foi para o Rio de Janeiro, quando em setembro
gravou o Chote “Adeus Mariana”, que foi a primeira música gauchesca de sucesso nacional,
segundo Paixão Cortez e Barbosa Lessa, no livro Danças e Andanças da Tradição
Gaúcha.
Em
1948, com a fundação do primeiro GTG do Rio Grande do Sul, o 35 - CTG, na
Capital, Paixão Cortez e Barbosa Lessa iniciaram um trabalho exaustivo de
recuperação das danças primitivas, que remontam desde o início da colonização
do Rio Grande do Sul, que se encontravam quase perdidas no tempo, com exceção
de “Prenda Minha”, que havia sido gravada, em 1945 por Pedro Raymundo. Paixão e Lessa recolheram danças como:
Balaio, Tatu, Maçanico, Boi Barroso, Chote Carreirinha e tantas outras que
trouxeram para ser dançadas na Sede do 35 CTG.
Paixão
Cortez e Barbosa Lessa, também, passaram
apresentar programas gaúchos na Rádio Farroupilha de Porto Alegre, sendo que o Barbosa Lessa
apresentava o programa “Querência”, em 1950 e o Paixão Cortez, apresentava o
programa “Festa no Galpão”, em 1953, nesse programa se apresentava o principal
era o “Conjunto Vocal Farroupilha”. Concomitantemente o poeta Lauro Rodrigues
apresentava o programa “Campereadas” na mesma emissora.
Em
1955, Paixão Cortez e Darcy Fagundes criou o “Grande Rodeio Coringa”, na Rádio
Farroupilha. Em 1957, Paixão Cortez saio da Rádio Farroupilha e foi para a
Gaúcha, no seu lugar ficou Dimas Costas, mas este, também, logo passou para a
Rádio Gaúcha e, junto com o Paixão Cortez criaram o programa “Festança na
Querência”. Darcy Fagundes com a saída do Dimas, ele convidou o Luiz Menezes e
apresentaram o programa “Rodeio Curinga”
até a década de setenta.
Com
a proliferação dos CTGs em todos os recantos do Rio Grande do Sul, também foram
criados programas gaúchos apresentados pelas Entidades tradicionalistas.
Somados a esses programas das Rádios Gaúchas e Farroupilha e tantas outras que
foram surgindo, também na capital houve um grande incentivo aos artistas, que
interpretavam a música Regional Gaúcha. Surgiram os Irmãos Bertussi, em 1955.
Outros artistas importantes da época foram “Os Gaudérios”, “Os Minuanos”, “Trio
Charrua”, “Os Carreteiros” e tantos outros foram surgindo.
Artistas
individuais como o Teixeirinha, Gildo de Freitas, Ademar Silva e outros.
Duplas, como a “Dupla Mirim” e outra igualmente importante “Norinho e Edires
Nunes”.
Na
década de sessenta surgiu em São Borja, “O Angueras – Grupo Amador de Arte
Nativa”, com o tema de “Rio e Remo”, nesta época, também, surgiram na Região
Missioneira Noel Guarany, Cenair Maicá, Jayme Caetano Brau e Pedro Ortaça, que
produziram músicas com o tema ligado a Região Missioneira – guaranítica.
Com
a criação da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, em 1971, foi o marco da
proliferação de festivais nativistas, e com eles o surgimento de um grande
manancial de músicos, letristas, interpretes, finalmente consolidando a nossa
Música Regional Gaúcha, além dos artistas participantes dos festivais, se
destacaram, levando nossa cultura musical para além das fronteiras do Estado.
Convém destacar, também, o surgimento de exímios jovem instrumentistas que
passaram a integrar conjunto para fandango e apresentação de espetáculos.
Hoje
um dos ritmos mais tocado é a Vaneira, ritmo que começou a ser executado por
Reduzino Malaquias, Tio Bilia Missioneiro, Dedé Cunha, entre outros.
Com
essa expansão e Consolidação da nossa Música Regional Gaúcha, tem sido o “sinuelo”
para manter nossa Identidade Gaúcha. Somos respeitados em todo o território
nacional por ter uma cultura própria e acima de tudo o culto desses valores da Terra.
Embora
o surgimento de outros meios de comunicação de massa, como por exemplo, a
televisão e a Internet, o Rádio continua sendo importantíssimo na preservação
de nossa cultura de raiz. É o meio de comunicação que atinge diretamente o
povo.
Considerando
a diversidade dos meios de relacionamentos na internet, os blogs, os Site,
E-mail, as comunidade de relacionamento virtual tem sido um eficiente canal de
divulgação e organização dos nossos valores culturais mais importantes que a
televisão, quando temos apenas um programa tradicionalista o Galpão Crioulo na
RBS TV.
Obrigado!
(Para o “Posadão” promovido pelo CTG
“Tropilha Crioula”, envolvendo os Departamentos artísticos, Prendas, Peões e
Invernadas). São Borja, 13/04/2013.
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