quarta-feira, 23 de julho de 2014

A Expansão da Música Regional Gaúcha

A Expansão da Música Regional Gaúcha
Por Israel Lopes e Ramão Aguilar

                                  Ao estimado Patrão Cláudio Caetano Vieira, do CTG “Tropilha Crioula”, os demais membros da patronagem aqui presentes, Departamento Prendas e Peões, Invernadas de Danças.
                                                                      
                                  Senhoras e Senhores:

                                  Sempre que somos chamados para falar de nossas raízes culturais, e, nesta oportunidade abordando nossa identidade gaúcha, no que se refere a sua Música Regional, nosso cancioneiro é um motivo de grande estímulo para seguirmos na busca constante de nossos valores de raízes para trazê-lo ao presente e projetá-lo as gerações vindouras.
                                  Esse apego a terra, nosso atavismo, a busca constante das nossas raízes é um apanágio de todos nós. E, quando passamos a descobrir essa cultura deixada pelos nossos antepassados fizemos um processo de reconstrução e nos sentimos no compromisso de recuperá-la, fazendo com que ela continue no seu processo evolutivo sem perder a sua essência, daí a importância da pesquisa e do conhecimento.
                                  Antes do Rádio existia a “casa a Eléctrica”, na capital de todos os gaúcos, Porto Alegre, de 1913 a 1919, segundo Hardy Vedana e Paixão Cortez. Os ritmos eram variados, sendo as mais gravadas, Valsas, Polcas, Mazurca e Chote, mas também gravaram Rancheiras, Marchas, Havaneira e tangos. Rodadas na era do Gramofone. A canção “Boi Barroso” recolhida do folclore gaúcho, foi gravada pelo gaiteiro Moisés Mandadori, em 1914. O dono da Casa A Eléctrica”, se chamava Savério Leoneti, emigrante italiano. Os temas gravados pela Casa A Eléctra, eram bem variados, alguns falavam no Rio Grande do Sul, outros na cultura Caipira de São Paulo e, também, sobre temas urbanos, gravados em 78 Rotações.
                                  A Música Regional do Rio Grande do Sul, na era do Radio, teve seu início na Rádio Gaúcha de Porto Alegre, com a programação de Piraja Weyer, em 1936; Pedro Raymundo, em 1939 e Lauro Rodrigues, em 1940. Nesses programas eles procuravam apresentar os ritmos regionais, como o Chote, Rancheira, Toadas, Valsas e Polca principalmente, e nas letras eles procuravam relatar os usos e costumes gaúchos. Pedro Raymundo e seu conjunto “Quarteto dos Tauras” e, também, a “Dupla Campeira” (Osvaldinho e Zé Bernardes). Estes, na época, eram os principais artistas que interpretavam o Cancioneiro Gaúcho. Pedro Raymundo tocava a Gaita de Botão e a gaita Cromática, enquanto que Osvaldinho tocava a gaita Pianada.
                                  O cantor Pedro Raymundo, em 1943, foi para o Rio de Janeiro, quando em setembro gravou o Chote “Adeus Mariana”, que foi a primeira música gauchesca de sucesso nacional, segundo Paixão Cortez e Barbosa Lessa, no livro Danças e Andanças da Tradição Gaúcha.
                                  Em 1948, com a fundação do primeiro GTG do Rio Grande do Sul, o 35 - CTG, na Capital, Paixão Cortez e Barbosa Lessa iniciaram um trabalho exaustivo de recuperação das danças primitivas, que remontam desde o início da colonização do Rio Grande do Sul, que se encontravam quase perdidas no tempo, com exceção de “Prenda Minha”, que havia sido gravada, em 1945 por Pedro Raymundo.  Paixão e Lessa recolheram danças como: Balaio, Tatu, Maçanico, Boi Barroso, Chote Carreirinha e tantas outras que trouxeram para ser dançadas na Sede do 35 CTG.
                                  Paixão Cortez e Barbosa Lessa, também, passaram  apresentar programas gaúchos na Rádio Farroupilha de  Porto Alegre, sendo que o Barbosa Lessa apresentava o programa “Querência”, em 1950 e o Paixão Cortez, apresentava o programa “Festa no Galpão”, em 1953, nesse programa se apresentava o principal era o “Conjunto Vocal Farroupilha”. Concomitantemente o poeta Lauro Rodrigues apresentava o programa “Campereadas” na mesma emissora.
                                  Em 1955, Paixão Cortez e Darcy Fagundes criou o “Grande Rodeio Coringa”, na Rádio Farroupilha. Em 1957, Paixão Cortez saio da Rádio Farroupilha e foi para a Gaúcha, no seu lugar ficou Dimas Costas, mas este, também, logo passou para a Rádio Gaúcha e, junto com o Paixão Cortez criaram o programa “Festança na Querência”. Darcy Fagundes com a saída do Dimas, ele convidou o Luiz Menezes e apresentaram o  programa “Rodeio Curinga” até a década de setenta.
                                  Com a proliferação dos CTGs em todos os recantos do Rio Grande do Sul, também foram criados programas gaúchos apresentados pelas Entidades tradicionalistas. Somados a esses programas das Rádios Gaúchas e Farroupilha e tantas outras que foram surgindo, também na capital houve um grande incentivo aos artistas, que interpretavam a música Regional Gaúcha. Surgiram os Irmãos Bertussi, em 1955. Outros artistas importantes da época foram “Os Gaudérios”, “Os Minuanos”, “Trio Charrua”, “Os Carreteiros” e tantos outros foram surgindo.
                                  Artistas individuais como o Teixeirinha, Gildo de Freitas, Ademar Silva e outros. Duplas, como a “Dupla Mirim” e outra igualmente importante “Norinho e Edires Nunes”.
                                  Na década de sessenta surgiu em São Borja, “O Angueras – Grupo Amador de Arte Nativa”, com o tema de “Rio e Remo”, nesta época, também, surgiram na Região Missioneira Noel Guarany, Cenair Maicá, Jayme Caetano Brau e Pedro Ortaça, que produziram músicas com o tema ligado a Região Missioneira – guaranítica.
                                  Com a criação da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, em 1971, foi o marco da proliferação de festivais nativistas, e com eles o surgimento de um grande manancial de músicos, letristas, interpretes, finalmente consolidando a nossa Música Regional Gaúcha, além dos artistas participantes dos festivais, se destacaram, levando nossa cultura musical para além das fronteiras do Estado. Convém destacar, também, o surgimento de exímios jovem instrumentistas que passaram a integrar conjunto para fandango e apresentação de espetáculos.
                                  Hoje um dos ritmos mais tocado é a Vaneira, ritmo que começou a ser executado por Reduzino Malaquias, Tio Bilia Missioneiro, Dedé Cunha, entre outros.
                                  Com essa expansão e Consolidação da nossa Música Regional Gaúcha, tem sido o “sinuelo” para manter nossa Identidade Gaúcha. Somos respeitados em todo o território nacional por ter uma cultura própria e acima de tudo o culto  desses valores da Terra.
                                  Embora o surgimento de outros meios de comunicação de massa, como por exemplo, a televisão e a Internet, o Rádio continua sendo importantíssimo na preservação de nossa cultura de raiz. É o meio de comunicação que atinge diretamente o povo.
                                  Considerando a diversidade dos meios de relacionamentos na internet, os blogs, os Site, E-mail, as comunidade de relacionamento virtual tem sido um eficiente canal de divulgação e organização dos nossos valores culturais mais importantes que a televisão, quando temos apenas um programa tradicionalista o Galpão Crioulo na RBS TV.
Obrigado!

(Para o “Posadão” promovido pelo CTG “Tropilha Crioula”, envolvendo os Departamentos artísticos, Prendas, Peões e Invernadas). São Borja, 13/04/2013.


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