A Família Ksata Em São
Borja
(*) Ramão Rodrigues Aguilar
O Senhor Masayuki Ksata, imigrante
japonês, nascido em 12 de junho de 1908 e falecido em São Borja em 19 de
fevereiro de 1990 foi oficial do Exército daquele País, vivenciou a IIª Grande
Guerra Mundial, época em que serviu na Coreia, que era governada pelo Japão,
antes da sua divisão. Veio para o Brasil, ingressando pelo porto de Rio Grande,
com sua família, em 2 de abril de 1957, de lá vieram direto para o interior de
Uruguaiana, na Estância “São Pedro”, de propriedade de João Batista Luzardo, O
Embaixador.
Com ele veio a sua mulher Mastuko (Nascida
em 18/01/1921 e falecida em 25/05/1992 em São Borja) e os filhos: Hishi
(falecido); Tadashi, mais conhecido por Darci, mora em São Borja; Manabo, após
um período de trabalho no Japão retornou a São Borja; a Yoshiko, mora no Japão e a Nastuko,
constituiu família e mora na cidade Gaúcha de Cachoeira do Sul.
Juntos com eles Imigraram trinta e
uma famílias nipônicas, para se dedicar ao plantio de arroz, na Estância São
Pedro, onde cerca de um ano trabalharam em situações precárias, sem remuneração,
até que foram liberadas do contrato e acabaram se dispersando. Em número maior
sedeara-se em Santa Maria e Porto Alegre. Seu Ksata se aventurou em permanecer
na fronteira oeste do Estado, abdicando a sua comunidade restringiu sua convivência
à família.
Deixando Uruguaiana foi para
Alegrete, onde moraram dois anos, mais ou menos e depois venho para o interior
de São Borja e se instalou na granja do Senhor Júlio Azambuja, próximo a “Inhú-Porã”. O outro local foi o Bairro
do Passo de São Borja, em janeiro de 1962,
na Chácara do Senhor Miguel Pacheco, havida da área maior da Granja São
Vicente, Rua Patrício Petti-Jean, quem vai ao Cemitério do Bairro do Passo, em
frente da antiga Fábrica de Linho Saragossa, onde os conheci.
Dos dois filhos que permaneceram em
São Borja, junto com os pais adotaram esta terra missioneira como sendo suas,
porém o silêncio ou esquecimento das origens estão subjetivamente em cada um
deles, talvez porque eram crianças quando vieram para o Brasil ou fazem questão
de esquecer suas lembranças, de um Japão arrasado e vencido pela guerra.
O Tadashi (Darci) trabalha com
viveiros de mudas de árvores frutíferas, ornamentais e de reflorestamento,
inclusive, floricultura e acessórios para decorações de jardins, também, hortigranjeiros.
Está localizado na Rua Ori Rei Dornelles nº 1225, próximo a Rodoviária de São
Borja. Ele me contou que sua família passou fome até se adaptar ao novo tipo de
alimentação, pois estranhou o uso da carne e seus derivados, a graxa, a banha,
o leite... Daí teve que aprender a comer estes alimentos, pois no Japão não
consumiam estes produtos e sim se alimentavam a base de peixe, grãos, legumes e
temperos da culinária japonesa, que aqui não havia comercialização, exceto o
arroz.
O Manabo, após ter ido para o Japão
em duas temporadas de trabalho, retornou e adquiriu uma chácara no interior de
São Borja e passou a fazer o que já fazia antes, produzir hortaliças e
lavouras, em pequena escala, como a mandioca, o milho, a batata, moranga,
abóbora, etc. Tudo no regime familiar, ainda traz seus produtos cultivados para
feira na cidade, todas as segundas, quartas e sábados, para ser comercializados
ao lado da Igreja Metodista, na Rua Barão do Rio Branco. Agora com o casal de
filhos formados e independentes, ele vendeu sua chácara e se limitou ao plantio
apenas de hortigranjeiros em um terreno na cidade.
Voltando ao saudoso Masajuki Ksata,
no ano que foi residir, com sua família, próximo lá de casa, na referida Chácara,
morou também em frente em uma das unidades residencial da antiga fábrica de Linho
Saragossa, onde residia, quando a fábrica funcionava, seu mecânico Senhor
Fernando Gonçalves. Ainda tenho uma lembrança bem lúcida desse período, apesar
de minha tenra idade.
O Senhor Miguel Pacheco foi piloto do
Presidente da República João Goulart e sua Chácara ficava lindeira ao pesqueiro
do Presidente e tinha uma área de terras de doze hectares (12he), onde o Senhor
Ksata organizou sua horta e grande plantação de tomate, com uma tecnologia,
então, em parte, desconhecida pelos são-borjenses, mas logo, seu
empreendimento, se propagou por toda a parte, vindo pessoas do centro, dos
bairros da cidade e até do interior para conhecer, comprar e admirar as suas
plantações.
Naquele tempo estes produtos não eram
tão valorizados como atualmente, talvez pela população desconhecer a
importância destes alimentos e, também, por falta de quem se dedicasse a essa
cultura, pois a maioria da ocupação do espaço produtivo era com a pecuária extensiva
e a outra parte com a cultura de arroz, trigo, milho e linhaça, mais tarde a
soja e o sorgo.
Não havia uma conscientização como em
nossos dias, hoje massificada pelos meios de comunicações, dos benefícios dos
produtos hortifrutigranjeiros para saúde. Felizmente nossos imigrantes, não só
o japonês, os demais, também, nos deram esta importante contribuição, ou seja,
uma produção primária diversificada, ocupando um pequeno espaço de terra e uma
alimentação saudável.
Estes pioneiros, além de nos ensinar
a comer melhor, inspiraram projetos na área da agricultura familiar, com
abrangência social e econômica, de interesse dos órgãos governamentais, ligados
à produção primária, atualmente com grande incentivo, através de
disponibilização de recursos financeiros e tecnológicos visando o crescimento e
desenvolvimento da agricultura familiar.
Volto ao meu velho e saudoso amigo
para contar que aos domingos à tarde eu fazia plantão, em frente de casa, para
vê-lo passar desfilando a cavalo, com o seu uniforme militar do Exército
Japonês, com suas medalhas e honrarias.
Sua estampa lembrava os filmes da II Guerra Mundial, que mais tarde vim
assistir lá no Cine Vitória. Ele estava ali ao alcance dos olhos, um legítimo
guerreiro... O sentimento de grande admiração por aquela figura totalmente
diferente da nossa raça, se não fosse, ele, meu vizinho, que do alto da sua
civilização milenar parava para me dispensar atenção, com seu sorriso franco,
diria que era uma figura estranha, numa época sem a informação de hoje em dia.
Seu Masayuki Ksata era uma atração especial
para mim, apenas um menino diante dos mistérios do mundo, evidentemente estranho
para minha época, a desfilar em seu cavalo em grande estilo militar, certamente
revivendo seu amor por um Japão, que havia ficado para trás, veio para América
símbolo de quem sonhava com um mundo novo... Montava um enorme cavalo para sua
estatura pequena, porém sorridente e muito simpático, cumprimentava a todos:
“konnichiwa” (oi), acenando e na despedida baixava a cabeça, inclinando
levemente o corpo dizia: “sayonara” (Adeus) e seguia em frente.
(*)
Pesquisador Cultural
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