GERALDO SUSTENTA COMBATE CONTRA O “14”
Ramão Rodrigues Aguilar (*)
Permita-me, que lhes conte, embora resumidamente, a história do combate de Geraldo Rodrigues, com uma esquadra do 14º Corpo Provisório da Brigada do Rio Grande do Sul, conhecido simplesmente por “14” . Comandado na época pelo Coronel Benjamim Dornelles Vargas, o “Beijo Vargas”. Este fato ocorreu na década de 30, no Passo de São Borja.
Geraldo Rodrigues foi guarda aduaneiro federal, nomeado por indicação do então deputado estadual Doutor Getúlio Dornelles Vargas, em 1920. Geraldo, além de ter servido no porto do Passo, esteve destacado no porto de São Marcos e Garruchos, mas nesta época morava no Passo de São Borja com sua família.
A origem da briga estava no cabaré “Verde Velho”, de Diocleciano Torres, crioulo de costa quente e mais dois irmãos Mariano e Elautério, que lhe faziam costado e, ainda, contavam com a proteção do Coronel “Beijo Vargas”.
Geraldo não era de levar desaforo para casa e muito menos de ser maneado com sovéu curto e ainda gostava de um “retoço” e não deixava a casa sem fazer um rebuliço com o chinaredo e sempre finalizava com um tendéu de bala. Exclusividade do Coronel Beijo Vargas.
Diocleciano andava a fim de perder as estribeiras com ele, mas sabia que não era fácil. Daí preparou um gancho para Geraldo, ajeitando um primo do velho, que se chamava José e se prestou para refugiar-se em sua residência, dizendo que estava sendo perseguido pelos “14” .
Para o Geraldo era uma ofensa, prender alguém em sua casa. Em outra oportunidade foi contar o que aconteceu com o Delegado e uma escolta do Exército que foram prender o Fulgêncio (Fulu) seu irmão por parte de mãe, que tava servindo e numa briga matou um colega de farda.
Diocleciano, abusando da proteção que tinha, acertou com o Sargento Marciano para comandar uma escolta com a pressuposta missão de prender o José, na casa do Geraldo, na certeza de que ele reagiria, oportunidade que teriam para matá-lo. Bastou o primo dizer sua ladainha que já foi pegando nas armas e munições, pois sabia que vinha “chumbo grosso”.
Naquela tarde ensolarada do mês de maio, quando os raios de sol pintavam de aquarela as águas do Rio Uruguai, que no mesmo sentido do sol desciam para o ocidente, foi neste momento que chegavam os homens do “14” , nas cercanias da casa do Geraldo, prevendo suas intenções, tratou de recebê-los à moda Floriano Peixoto: “à bala”.
O Sargento Marciano deu ordem para abril uma coluna de fogo e sem ser percebido fez a volta pelo meio do quarteirão para atacar na emboscada. Geraldo com seu mosquetão e um revólver calibre 45 de uso em serviço, mas não tirava da cintura um Schimidt calibre 38, na hora de pegar as armas viu que havia sido sabotado, tinham tirado o ferrolho do seu mosquetão e saiu pra fora somente com os revolveres e o bocó de munição, neste momento, sua filha Lavína o acompanhou na briga e pelejou junto com seu pai.
Enquanto o Geraldo atirava com um revólver ela municiava o outro e com isso iam segurando o avanço da coluna, que estava cargosa mais precavida, pois conhecia a boa pontaria, que apesar de arma de pouca distância era muito certeira e não sabendo do ocorrido com o Mosquetão, de certo, achavam que seria surpresa.
Marciano entrincheirado atrás de um pé de laranjeira atirou de traição, acertando um balaço no seu oponente, deixando-o gravemente ferido, mas não imobilizado. Neste momento, o Geraldo gira o corpo para trás e alveja-o com dois balaços, deixando-o lastimado. Marciano enfurecido deu ordem a seus comparsas para que entrassem na casa e matassem todos, inclusive mulheres e crianças.
Mas nesse exato momento chegou o Tenente Gregório Fortunato num Ford 29, seguido por um caminhão de praças também do “14” , com ordem para acabar com a briga, Dobraram a esquina da Avenida Francisco Miranda com a antiga Avenida 24 de fevereiro, atual Tristão de Araújo Nóbrega, levantando poeira.
Beijo Vargas não sabia da trama, pois se soubesse não permitiria, pois o Geraldo era um dos deles e logo que soube do tiroteio no Passo, imediatamente ordenou o Gregório dar fim a luta.
Gregório com a situação controlada dirigiu-se ao Geraldo a fim de prestar-lhe socorro e o mesmo disse: “Gregório, leva esses teus bandido”. Na verdade a missão não era autorizada pelo Comando do “14” , sem se quer dela tinha conhecimento, foi coisa do Sargento Marciano, que por sua vez abusou da sua autoridade, tentando fazer um favorzinho ao proprietário do “Verde Velho” Diocleciano Torres.
O que diria Diocleciano desta tentativa frustrada de matar o Geraldo, ele que foi o autor intelectual do plano. Quem sabe concluísse que não foi desta vez, e se houve outra também não teve sucesso, pois Geraldo morreu de morte natural aos quase noventa anos.
De todas as vezes que visitava o saudoso Doutor Pedro Antonio de Mello, sempre me contava esta briga do Vovô Geraldo com o “14” . Ele dizia: - “Eu era guri e minha mãe me mandou na minha tia pegar um acolchoado. Daí pulei em pelo num petiço e saí a galope, mas logo em seguida presenciei o Geraldo se tiroteando com o “14” . De certo terminou as balas, se não o Geraldo tava dando tiro até hoje! (risos). Que homem de coragem o teu avô, - dizia ele.
(*) Pesquisador
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