“PRIMERA JORNADA DE REFLEXIÓN SOBRE LA VIDA DEL Cdte. ANDRÉS GUACURARÍ Y ARTIGAS”, EN EL SALÓN AUDITORIO DE LA FACULDADE DE MEDICINA - SANTO TOMÉ – Ctes., en 29/09/2006”.
(*) Ramão Aguilar.
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SAUDO AS AUTORIDADES QUE FORAM NOMINADAS, INICIALMENTE, PELO PROTOCOLO; MINHA SAUDAÇÃO ESPECIAL AO SENHOR JUAN ALBERTO GÓMEZ, TATARANETO DE ANDRÉS GUACURARÍ Y ARTIGAS, QUE NOS HONRA COM SUA AMÁVEL PRESENÇA; CONVIDADOS ESPECIAIS, DIGUINÍSSIMOS COLEGAS PAINELISTAS, SENHORAS E SENHORES, QUE PRESTIGIAM ESTE ENCONTRO; BOA NOITE!
No Início do século XVII, a Companhia de Jesus fundou inúmeras povoações em território hoje pertencente ao Brasil, Argentina e Paraguai. Visavam ocupar terras destinadas à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, bem como difundir a fé cristã, imbuída o espírito de Contra-Reforma.
A história das Missões é muito rica e abrangente, pois compreende duas fases: o 1º Ciclo, que teve seu início em 1626 e o 2º em 1682, com a fundação dos “Sete Povos Missioneiros”, perdurando após o tratado de Madri, que motivou as Guerras Guaraníticas, até 1756. A civilização e cultura Jesuítica, com sua famosa República Comunista Cristã dos Guaranis, segundo entendimento de vários historiadores.
Quando chegaram os europeus, a América era um continente habitado. Vários povos com diferentes formas de organização política, econômica e social, cultural ocupavam essa área americana. Encontravam-se grandes grupamentos humanos, tidos como aborígines.
A Igreja Católica teve um papel fundamental na definição e ocupação das terras colonizadas, tanto nos territórios portugueses, quanto nos espanhóis.
Os guaranis era um povo que tinha tradições estruturadas há séculos, as quais foram radicalmente modificadas, com a invasão dos europeus, com quem passou, historicamente, a disputar o território essencial a sobrevivência.
Para melhor compreender as histórias de São Borja o historiador Amaral Flores divide em períodos, sendo: São Borja, redução dos Sete Povos: 1687-1756: São Borja sob a administração espanhola: 1756-1801, com o Tratado de Madrid; as questões de ordem geopolíticas e os momentos finais do domínio espanhol sobre a área dos Sete Povos e a História Luso-brasileira de São Borja, a partir de 1801. Com as lutas de ocupação do espaço missioneiro e a privatização da terra como forma de colonização; a defesa do território ocupado pelos luso-brasileiros e os habitantes do povoado de São Borja.
O período que compreende o nascimento do Comandante Andrés, na última década do século XVIII, durante o domínio espanhol e, suas incursões de reconquista dos povos missioneiros, na primeira vintena do século XIX, durante o domínio dos Sete Povos pelos luso-brasileiros.
Segundo o historiador João Rodolpho Amaral Flores: “parte as questões econômicas, essa fase é permeada por conflitos militares, decorrentes da disputa territorial”. De um lado, os conquistadores portugueses, preocupados com o povoamento e a defesa das fronteiras. Do outro, partidas do exército espanhol, inicialmente e, depois, das forças nacionalistas de independência do Uruguai e da Argentina, com seus respectivos interesses geopolíticos e econômicos sobre a região.
Sob o comando do General Chagas Santos, foi firmada a sede administrativa da área conquistada em São Borja , ou seja, OS SETE POVOS DAS MISSÔES. As forças de ocupação portuguesa contaram com apoio de regimentos de milícias, formados por indígenas guaranis. Entre os caciques que se colocaram ao lado dos portugueses, destacaram-se: Vicente Tiraparé, Ismael Baré e Pascoal Chucuí.
Ainda, segundo o historiador Amaral Flores, no decorrer desse período, entre outras incursões, a principal campanha enfrentada pelas forças portuguesas das Missões foi a de Andrés Guacurarí.
“Em 1816: ocorreu a famosa incursão de André Artigas sobre as missões, trazendo graves efeitos para o desenvolvimento de São Borja. A complicada situação política da Cisplatina, e as discórdias entre unitaristas e federalistas da Argentina, gerou um conflito que atingiu diretamente a área de missões, em ambas as margens do Rio Uruguai. Por ser da etnia guarani e ter liderança destacada entre os indígenas. André Artigas em apoio às pretensões do caudilho uruguaio José Artigas, seu pai por adoção, conseguiu reunir um grande exército e invadiu São Borja. Esse ato visava garantir a posse do território oeste da Província do Rio Grande do Sul, ligando-o aos territórios do nordeste e leste argentino, e estes ao território uruguaio. São Borja foi transformada em praça de guerra, tentando resistir à superioridade numérica das forças invasoras do Comandante Andrés Guacurari”.
“Com a sua população e as tropas de defesa praticamente isoladas sofrendo com a escassez de alimentos e de água, teve revertida essa situação, quando acudiram ao local, as forças do Coronel José de Abreu, vindas de Alegrete. Na ocasião, contou com o apoio de soldados do Regimento de Dragões, oriundos de Santa Catarina, sob o comando do Capitão José Maria da Gama Lobo Coelho D”Eça. “Assim, em tempo, conseguiram socorrer as forças sitiadas de Chagas Santos”.
“Em desvantagem, André Artigas evadiu-se pelo Passo de Santana. Porém, muitos de seus soldados não tiveram a mesma sorte. Um número expressivo de seus combatentes foi encurralado junto ao Passo de São Borja”.
“Mais tarde, no ano seguinte, persistindo no seu intento de tomar a região missioneira, André Artigas foi diretamente atacado em território argentino, pelas forças de Chagas Santos. Mais uma vez a política da terra arrasada funcionou. Entre os despojos das batalhas. Chagas Santos fez transladar centenas de índios para as estâncias de São Borja, entre outros despojos de guerra”.
“Apesar dos fracassos, os intentos de André Artigas persistiram. Depois das incursões de Chagas Santos em território argentino, no início de 1818, voltou aquele a invadir o território das Missões, novamente junto ao passo de São Borja. Logo tendo que retroceder, devido à resistência imposta pelos combatentes da povoação”.
“Contudo, em abril de 1819, novamente, o persistente Artigas conseguiu restabelecer um quartel general na região de São Nicolau”. Umas séries de combates ocorreram na área situada entre os rios Icamacuã e Piratini, com vantagens ao invasor. Os sucessos obtidos fizeram André Artigas rumar na direção das localidades de São Vicente e São Francisco de Assis, com o objetivo de reunir suas forças às de seu pai. Mas, a conjugação de forças militares portuguesas do Brasil, determinou a derrota definitiva dos Artigas no território das Missões, nos combates que se sucederam na região de Santiago. “Mais tarde, feito prisioneiro, André Artigas, foi colocado em liberdade, regressando a Montevidéu no ano de 1821.”
Segundo o historiador Osório Tuyuty de Oliveira Freitas, em seu livro A Invasão de São Borja: “José Artigas ajuda a expulsão dos espanhóis, mas proclama a independência do Estado Oriental do Urugaui de que se fez nomear governador”.
Perseguido por Buenos Aires e pelos portugueses, intenta uma empresa de vasta envergadura – a conquista das Missões Orientais.
Para isto, lançou mão de seu filho adotivo André Taquari (Artiguinhas, Andresito Guacurari) célebre índio guerreiro, pelo seu valor e constância, legítima expressão dos “ameríndios”.
Bem recebido pelos seus compatriotas, André Artigas toma conta de cinco povos do Paraguai.
Empregou toda metade do ano de 1816 em organizar um exército que atingiu o número de dois mil e tantos aborígines.
“Depois de atravessar o Uruguai em Itaqui, tendo encontrado pequenas resistência, chega a São Borja, a qual monta sítio, em 21 de setembro de 1816” .
Ainda, segundo Tuyuty, Andresito teve outros combates sangrentos em Apóstolos, em São Carlos , São Nicolau e em Itacurubi, quando foi vencido.
Segundo matéria publicada no jornal Zero Hora de 01/09/2001, por ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES, diz o seguinte: “Os argentinos nos ganharam inaugurando na última segunda-feira um monumento ao índio guarani, que eles chamam de Andrés Guacurari, o mesmo Andresito Artigas dos Uruguaios e o nosso André Taquari. A estátua foi erguida junto a Ponte Internacional que liga Santo Tomé (na Província Argentina de Corrientes) a São Borja. Ali está Andresito, saudando os que chegam do Brasil e despedindo os que deixam à Argentina”.
“Andresito, lutou bravamente e terminou vencido na luta pela dignidade do povo índio. Foi, com toda a certeza, assassinado por marinheiros ingleses a serviço do vingativo interesse de Portugal. Quando se tratou de inaugurar a Ponte, eu lutei muito para que se chamasse, do lado brasileiro,, Ponte Internacional André Taquari e, do lado argentino, “Puente Internacional Andrés Guaçurari”. Seria uma justa homenagem, mas contra se levantaram vozes a reclamar que ele havia atacado São Borja. O que Andrasito queria, ao atacar São Borja, era mobilizar os seus irmãos guaranis quanto à opressão luso-brasileira. Não nos esqueçamos que nosso amado Brasil tem duas manchas na consciência nacional: a escravidão negra e o genocídio indígena. A homenagem não lavaria manchas, mas aliviaria nossa consciência”.
Perguntei a pedido da Senhora Lili Vignolo, onde se encontra os restos mortais de Andrés, o Doutor Antonio Augusto Fagundes (escritor, historiador, folclorista, poeta...), prontamente me respondeu por E-mail, dando sua versão a respeito do assunto e, o que sobejamente demonstra sua grande admiração e reconhecimento dos méritos de ANDRÉS GUACURARÍ Y ARTIGAS.
Eis o seu E-mail:
Caro Ramão Aguilar:
Tenho pesquisado muito sobre a vida de André Taquari, também chamado André Artigas (no Uruguai) e Andrés Guacurari (na Argentina), o famoso Andresito Artigas, que foi dos comandantes artiguistas o que comandou tropas mais numerosas e o que teve atuação guerreira mais notável. O caudilho guarani chegou a ter uma pequena marinha de guerra, a qual foi comandada pelo lendário Pedro Campbel um irlandês notável, figura de guerreiro e caudilho que ficou pelo pampa e se agauchou completamente.
Andei em Brasília, no Rio de Janeiro e até em Lisboa procurando o inquérito militar que certamente foi feito pelas autoridades portuguesas da época de sua prisão, quando o Brasil ainda pertencia a Portugal. Ainda não encontrei nada.
A morte de Andresito é um mistério. Só existe m suposições. Quando se libertaram os caudilhos artiguistas no Rio de Janeiro ( porque o Brasil queria fazer um agrado ao Uruguai, incorporado ao Império brasileiro como Província Cisplatina). Andresito foi libertado e até talão de embarque recebeu para voltar a Montevidéu, não se sabe o que aconteceu, porque não há notícia de seu embarque, ao contrário dos outros líderes artiguistas. As duas versões mais consistentes são: a) ele voltou anonimamente ao Uruguai e se sumiu anonimamente nas Missões; b) ele foi embriagado no cais do porto e se meteu numa briga com marinheiros ingleses no porto do Rio de Janeiro e foi atirado ao mar, bêbado, ferido ou morto.
O fato é que não se sabe onde estão seus restos mortais. Eu tenho a convicção que a segunda versão é correta, porque as autoridades luso-brasileiras não podiam se arriscar a uma revolta dos guaranis que ele poderia fazer no seu regresso aos Sete Povos das Missões.
De qualquer forma, uma homenagem à memória de Andresito pode e deve ser feita reunindo autoridades, intelectuais e tradicionalistas do Rio Grande do Sul (e podem contar comigo).
O que menos nos importa nesse processo de recuperação da memória de Andrés é seu local de nascimento, mesmo porque, quando nasceu à região missioneira estava sob o domínio espanhol, não deixa de ser justa tal reivindicação, pois tanto de um lado como do outro existe pessoas que não deixam de reconhecer o valor e o que representou Andrés ao seu povo. O fato histórico deve ser analisado na época que ocorreu, quanto às diferenças temos que apreender a conviver, pois a história dos povos são valores inalienáveis da humanidade. São Borja foi inicialmente espanhola, passou ao domínio luso-portugues para ser brasileira. Andrés Guacurari, antes de ser argentino (espanhol) ou brasileiro (português), foi um indígena, nasceu de uma mãe Guarani, seu sangue, embora mesclado, não perde sua origem aborígine, tanto que deu sua vida a defesa da dignidade do povo índio.
Nós, brasileiros nos sentimos honrados, pelo fato de também poder contar e cantar nossa São Borja Espanhola, de tantas contribuições culturais prestadas ao São Borja de ontem e de hoje. Vários poetas, compositores letristas e musicistas enaltecem a figura histórica de Andrés: A começar por Nico Fagundes, Noel Guarani, Jaime Caetano Brau, João Sampaio, Jorge Guedes e muitos outros.
Para encerrar gostaria de agradecer a “Casa de la Cultura – Concepción Centeno de Navajas”, na pessoa da Senhora Elba Batalla de Vignolo - Presidente e ao historiador Alexandro Larguia, que muito tem me incentivado a estudar nossa história primitiva, aliado ao prazer de conhecer o Don Juan Alberto Gómez, tataraneto de Andrés Guacurarí.
Muito Obrigado!
(*) Pesquisador Cultural.
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